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- Ohana Dreams (Capítulo 8)
Posted by : CanasOminous
1 de nov. de 2016
Uma enorme tenda erguia-se em meio à região onde antes
existia apenas um amontoado de lixo e criaturas selvagens. Miliani não estava
preparada para sair em um encontro, não trouxera nenhuma roupa desde o
incidente em sua casa, mas a Sra. Renée fez questão de emprestar-lhe um vestido
de sua filha que estava guardado há quase uma década — depois de devidamente
lavado, secado e perfumado, caiu-lhe muito bem. Nunca saiu de moda. O último
detalhe foi uma flor delicada na cabeça, mas ainda estava envergonhada por usar
um vestido que custava mais do que todo seu salário de um ano. Dylan andava só
de shorts e camisa florida, poderia passar-se por um dos nativos com
facilidade.
Hal não conseguia conter sua ansiedade, correu o mais
depressa que pôde até a beirada da colina para enxergar um evento inédito em toda
sua grandeza. Diversas luzes iluminavam a rota que do circo que acabara de ser
instalado, o primeiro espetáculo seria inaugurado ainda naquela noite. Uma das
maiores atrações era que treinadores e Pokémons podiam compartilhar espaço nas
arquibancadas, fazendo jus ao seu tamanho monumental. Naquele tempo as pessoas
ainda adoravam circos, era uma das formas de arte mais influentes do mundo, um
programa incomum em meio à rotina pacata de muitos durante a semana.
Hal andava junto de sua Popplio, ela estava tão ansiosa
quanto seu dono. Miliani prendera Rockruff na coleira para que o cãozinho não
saísse espalhando o caos, por isso Dia teve que se comportar. Por um instante
eles pareciam uma família grande e feliz.
— Vocês podem ir procurando os assentos? Vou comprar
algumas pipocas e batata frita — falou Dylan, entregando-lhes os ingressos.
Miliani estava ali, perdida no meio de tantos turistas e
pessoas de diferentes regiões. Estava acostumada à atenção que recebia na
Cabana do Luar onde trabalhava, mas a repercussão do circo era cinco vezes maior.
O público era refinado, o povo mais simplório de Alola nunca poderia pagar uma
entrada. O trabalho dos artistas ali era reconhecido, a mera possibilidade de
viajar mundo afora junto de tantas pessoas habilidosas a fez sibilar um
sorriso. Um enorme letreiro neon brilhava com letras garrafais: Sunset Circus.
— Está pensando em como seria trabalhar em um lugar
desses? — perguntou Hal para sua irmã. Ele a conhecia muito bem.
Mas o sorriso dela aos poucos foi desaparecendo.
— Eu não poderia. Tenho que cuidar desse pestinha — Mili
respondeu, afagando sua cabeça.
— Fala sério, você está deixando de seguir os seus
sonhos por minha causa? Não faça isso, sério, eu vou ficar muito triste.
— Não estou deixando nada de lado, querido. Essa vida de
fama só não é para mim, não acho que eu poderia me tornar uma líder de ginásio
famosa, ou quem sabe até uma artista, tem gente que não nasceu para isso. Eu só
queria... — ela desviou o olhar. — Uma vida tranquila.
— Você se acomodou desde que aquele dia... — o dia da morte de seus pais.
— O que eu posso fazer? — Mili soltou um longo suspiro,
tentando enxergar as estrelas no céu sem muito sucesso por conta da claridade. —
Alguns acontecimentos nos fazem crescer rápido demais.
O pequeno Rockruff não parava de latir, havia tantos
Pokémons e cheiros diferentes. Os dois ainda aguardavam na entrada quando um
estranho homem com o rosto pintado de branco e vestes monocromáticas apareceu
na companhia de seu Mr. Mime. Ele parecia ser um mímico, porque não falou
nenhuma palavra e apenas gesticulou para eles. Hal riu ao perceber que o mímico
se aproximou de sua irmã e começou a fazer sinais faciais e gestos, indicando
que ela era muito bonito. Seu Rockruff, que agora latia com ainda mais força, parecia
não querer companhia. O mímico olhou para seu Mr. Mime que fez um gesto
pensativo, depois retirou algo invisível de uma bolsa imaginária, fazendo
movimentos estranhos em volta do cachorro. Neste mesmo instante, Dia parou de
latir e se comportou, como se um manto invisível o cobrisse. A pequena plateia
que estava na entrada aplaudiu a demonstração e o mímico agradeceu todos com um
gesto cortês.
— Como é que ele fez isso? — indagou Hal, maravilhado.
— É mágica! — falou outra menina na fila.
Senhorita Chefe, a Popplio de Hal, caminhou em direção
do mímico e seu Mr. Mime e apoiou-se nas nadadeiras de trás, como se pedisse um
último truque antes do espetáculo de verdade. O mímico silencioso fez sinal
pensativo e teve uma ideia, fazendo o clássico sinal de que havia uma barreira
invisível entre eles. O Mr. Mime entendeu o recado e começou a fazer o mesmo.
No momento que Popplio tentou atravessar para o lado
deles, ela acabou realmente batendo em uma barreira transparente, fazendo com
que todos caíssem na risada.
Dylan logo voltou com as pipocas e aperitivos, seus amigos
queriam que ele tivesse as honras de entregar os ingressos e ser o primeiro a
entrar.
— Estava uma fila enorme, não precisavam...
Quando finalmente adentraram o interior do circo, Hal
surpreendeu-se com seu tamanho. Havia pilares enormes sustentando sua
estrutura, a lona nem de perto parecia tão grande vista de fora, pela forma
como as bases se erguiam eles fariam uso de cada centímetro de seu interior,
desde piruetas no ar junto de Pokémons voadores até saltos mortais em uma
piscina minúscula. Dylan finalmente encontrou seus assentos no corredor D, eram
os números 17, 18 e 19. Tiveram de esperar cerca de meia hora para que o
espetáculo finalmente começasse, todas as cadeiras estavam cheias e não havia
espaço disponível. Um homem gorducho e de cartola fez a entrada triunfal
surgindo de um caixote trazido por dois Machokes, ele desejou as boas vindas ao
seu respeitável público e fez as devidas apresentações.
A atração inicial ia desde malabaristas até dançarinas,
uma Tsareena foi a celebridade da festa com todo seu glamour e carisma.
— Ela é linda demais! A Pokémon perfeita! — ouviu-se
alguém gritar da plateia.
O mímico também voltou para a cena. Ele apresentou seu
Mr. Mime com novos truques, levitando objetos em demonstrações surreais de seus
poderes psíquicos. Na hora de fazer o público dar risada ele trouxe um Mimikyuu
pequenino que entrou em cena. O mímico, envolto em mistérios, insinuou que iria
desvendar o mistério sobre o que realmente existia debaixo do manto dos
Mimikyuu. Ninguém jamais ousou retirá-lo, temendo uma maldição que não pode ser
varrida por rezas ou amuletos.
A tensão era grande. Quando o manto foi retirado, toda a
plateia praticamente gritou ao mesmo tempo ao descobrirem que era na verdade...
— UM BIDOOF! — todos caíram na risada, afinal, não se
pode gostar de Bidoofs.
Aquele pobre Pokémon fora trazido da distante região de
Sinnoh, obviamente não se tratava de nenhum Mimikyuu verdadeiro. Ele parecia
bem triste e não recebia as risadas de forma positiva. Hal ficou um pouco
chateado pela maneira como o público ria e se divertia com aquela criatura tão patética,
como piada. Ao menos, contanto que o Pokémon estivesse em boas mãos com o circo,
era melhor do que cair no time de algum treinador que o transformasse em um HM Slave, um escravo de movimentos.
Hal não percebeu que a um dado momento do show, sua Popplio
desaparecera. Ele se levantou assustado e procurou por todos os lados nas
arquibancadas até perceber que a Senhorita Chefe estava andando para o meio da
pista onde os palhaços acabavam de entrar e iniciavam a próxima apresentação. Hal
ergueu-se num salto, mas não tinha como impedi-la. Os palhaços viram o Pokémon
curioso andando na direção deles e decidiram improvisar.
— O que temos aqui, Wilson?
— Acho que temos um Pokémon perdido, Wally.
Os dois apoiaram-se em seus joelhos e chegaram bem perto
da pequena Popplio, esfregando seus narizes rosados um no outro.
— Você gosta de panquecas, amiguinho? Hein? Hein? —
falou Wally.
— Seu idiota, não percebe que ela é uma fêmea? —
reclamou Wilson.
— E como você sabe que ela é uma fêmea, seu cabeção?
— Da mesma forma que eu sei que você é um macho!
Todos riram na plateia e os palhaços ergueram a Popplio
no alto para participar da peça. Era um improviso que acabou sendo muito bem
vindo, a ideia de receber Pokémons dos visitantes interessou e muito o
organizador do Sunset Circus que
adorou o resultado. A Senhorita Chefe brincou em enormes bolas infláveis, fez
graça e divertiu o público como se fosse parte do teatro. Ao final do show, os
palhaços Wilson e Wally a ergueram no alto, e juntos, agradeceram o público num
cumprimento cordial. A Popplio amou ser aplaudida junto dos demais artistas.
— A quem pertence essa adorável criatura? — perguntou um
dos palhaços bem alto.
Mili cutucou seu irmão, pedindo para que ele levantasse.
— Estão chamando você!
— Vai lá, é a sua chance de aparecer! — Dylan também o
incentivou.
— M-mas na frente de todo mundo?!
Dia escondeu-se atrás da cadeira do garoto e deu um
latido tão alto que o assustou, fazendo-o levantar-se depressa. Os holofotes
miraram nele e Hal foi obrigado a descer até o palco. O dono do circo o recebeu
de braços abertos.
— Qual seu nome, garoto?
— É Hala Kameahookohoia.
— Saúde — falou um dos palhaços.
— Seu Pokémon é um artista nato! Uma salva de palmas
para Hala e seu Popplio!
Hal estava extremamente envergonhado com a recepção
calorosa de pessoas que nunca antes vira, mas sua Popplio simplesmente se
deleitava. Ela nascera para aquilo, o som dos aplausos era seu combustível. Na
primeira vez em que se perdera de seu bando nas águas frias de Alola foi porque
ouviu o barulho de seres humanos nas proximidades, sendo imediatamente atraída
para a costa. Acabou por encontrar-se com Hal que levava uma vida simples no
campo, mas o primeiro contato com os holofotes da cidade a fez querer viver ali
para sempre.
Os palhaços fingiram lágrimas quando tiveram de se
despedir da Senhorita Chefe, a Popplio acenou com sua nadadeira e encheu o
coração dos espectadores com compaixão.
Sua irmã e Dylan o aguardavam em seus respectivos
assentos quando o espetáculo terminou. Ainda estava bem cheio, preferiam esperar
a multidão sair apressada para somente depois se levantarem. Enquanto isso,
teriam muito a rir e comentar sobre o ocorrido.
— Cara, você ficou vermelhão lá na frente! Ardendo feito
um Slugma! — falou Dylan animado.
— E ainda dizem que sou eu que levo dom para o lado
artístico — brincou Miliani.
— Não inventem coisa. Eu só fui buscar essa pestinha que
em um dia já me fez passar mais vergonha do que em toda minha vida — falou Hal
olhando para sua companheira.
Enquanto aguardavam, um sujeito de camisa listrada apareceu
pulando as cadeiras até conseguir aproximar-se deles. Quando finalmente os
alcançou, ajeitou o cabelo e falou com alívio:
— Ufa, sorte que ainda estão aqui! Pensei que já
tivessem ido embora.
— Quem é você? — perguntou Dylan, desconfiado.
— Ah, desculpem, fico meio irreconhecível com a
maquiagem. Eu sou o mímico da peça, meu nome é Michael.
— Você... fala? — perguntou Mili, decepcionada. O rapaz
riu da inocência da garota.
— Claro, e para ser bem sincero, meus amigos dizem que
falo até demais. Pois bem, vocês são os donos dessa adorável Popplio, não é?
Meu chefe adoraria conversar um pouco mais, especialmente com o garoto. Estão
interessados?
Michael levou-os até os bastidores do circo onde muitas
pessoas já arrumavam os acessórios usados na festa, preparando-se para o
espetáculo de amanhã.
— Senhor Mímico, posso perguntar uma coisa? — indagou
Mili. — Que tipo de magia você fez para que meu Rockruff parasse de latir?
Michael sorriu com a curiosidade da moça.
— Não existe magia entre nós, humanos, mas nossos
Pokémon são capazes de milagres. Aprendi a me comunicar com meu Mr. Mime
através de gestos e pedi que ele utilizasse o movimento Role Play em seu Rockruff. Dessa forma, suas habilidades foram
trocadas, o Soundproof de meu Mr.
Mime foi transmitido ao seu cãozinho que imediatamente notou uma diferença
drástica no barulho emitido por seu latido e isso o fez parar por algum tempo.
Mas o efeito passa, logo ele estará latindo loucamente mais uma vez!
— E a parede invisível?
— Barrier.
Esse era meio óbvio, não? Se os Pokémons psíquicos conseguem entortar colheres
com o poder da mente e levitar objetos, digamos que nosso show de mágica
realmente é feito de pura magia!
Ao chegarem nos bastidores, o homem gorducho que parecia
ser o mestre de cerimônias conversava com dois sujeitos sérios, um deles fumava
um cigarro. Hal os reconheceu como sendo Wilson e Wally, os palhaços.
— Chefe, eu os encontrei — disse o mímico.
— Maravilha! Onde está? Onde está a nossa estrela?
A Popplio aproximou-se do homem que a pegou no colo.
— Coincidentemente, o nome dela também é Chefe — falou
Hal.
— Oh, então temos aqui um dom nato para a liderança!
Imagine só colocar essa mocinha na liderança, ela pode fazer piruetas em cima
de nosso Zebstrika, saltar na piscina do Shellder, aumentar a repercussão dos
palhaços!
— Nós vamos ter que ficar carregando essa coisa por toda
parte? — perguntou Wilson, um dos palhaços que estava com o cigarro entre os
dentes. Agora não parecia tão engraçado
ou alegre. Preferiu não ficar e ouvir a resposta, ele guardou o isqueiro e
ajeitou a blusa antes de sair. — Vamos embora. Ainda temos alguns lugares para
ir hoje à noite.
— Falou — respondeu Wally, o outro palhaço.
Apesar da estranha recepção, Hal e Miliani continuavam
muito empolgados com o que viram na apresentação.
— O espetáculo do senhor é brilhante, é a primeira vez
que vou a um circo e tive a melhor das experiências! — disse Mili.
— Oh, agradecido. Batalhei muito para chegar onde estou
hoje. Gostariam de uma algo para beber? Vocês têm horário para voltar ou estão
muito ocupados? Eu adoraria conversar melhor.
Os pais de Dylan não ligavam de eles voltarem tão tarde,
contanto que não excedesse a meia noite. A Tsareena da apresentação de abertura
logo veio trazendo uma bandeja com aperitivos e algumas xícaras. O homem de
cartola serviu seus convidados com chá, biscoitos e queijo, perguntou se
Miliani e Dylan eram os pais ou talvez os responsáveis por Hal, pois ele tinha
muito interesse em fazer-lhe uma proposta.
— Garoto, você gostaria de deixar sua Popplio sob nossa
proteção pelo período de uma semana? Gostaríamos de ver se ela se adapta aos
nossos métodos, vamos treiná-la e oferecer alimento adequado, acredito que
tenhamos aqui uma futura estrela, nunca vi tamanha habilidade!
— E-eu... não sei — murmurou Hal.
Ele sentia certa pressão, afinal, só tinha doze anos.
Não fazia nem dois meses que conhecera Popplio, mas via nela uma grande amiga.
Queria tê-la ao seu lado por mais tempo, tinha medo deles não a tratarem tão
bem ou de que acabasse sentindo sua falta.
Vendo que havia a possibilidade de sua proposta ser
recusada, o chefe do circo analisou bem as vestes e o porte da criança. Hal era
simples. O homem serviu-lhe um pouco mais de chá e então falou:
— Bem, se interessar, podemos discutir a possibilidade
de pagar uma boa quantia por cada apresentação de sua Popplio... Eu pago adiantado
só pelos testes, dinheiro vivo, agora mesmo.
Ele retirou um bolinho de notas verdes enroladas e
colocou-o sobre a mesa. Hal nunca pegara em tantas notas ao mesmo tempo, até
mesmo Mili sabia que aquela quantia ajudaria muito com as contas, cerca de 150
dólares. Era um dinheiro seu, somente seu.
— O que me diz? — o homem do circo voltou a
pressioná-lo.
Os pensamentos de Hal estavam muito conturbados, ele
sentiu alguém tocar em seu ombro, mas para sua surpresa não era sua irmã.
— Cara, se for para topar, não é pelo dinheiro — falou
Dylan. — É o sonho dela. Você sabe que sua Popplio tem dons artísticos, pode
experimentar esse período de testes e, se não gostar, nós a levamos de volta.
Hal bem para sua companheira Popplio. Ele seria a voz
dela.
— É só uma semana, não é?
O chefe concordou com a cabeça e lhe esticou a mão.
— Nem um dia a mais.
Hal finalmente aceitou a proposta, entregando a
Senhorita Chefe nas mãos de seu novo mestre. Não havia pokébolas para que uma
troca formal fosse feita, não houve nem contrato algum. O diálogo e sua palavra
lhes eram suficientes.
— Oh, preciso começar imediatamente a criação de banners e flyers: “Popplio é a nova sensação do Sunset Circus!” Seu nome estará estampado no mundo inteiro!
Hal olhou para sua irmã e a primeira coisa que fez foi
entregar-lhe o dinheiro. A moça fez que não com a cabeça, ele mesmo deveria
guardar e decidir em como usaria aquela quantia. Ao menos seu coração era
confortado pelo fato de que a Popplio desejava isso mais do que tudo. Ela daria
o seu melhor, precisava pelo menos tentar.
Quando Hal finalmente deixou os bastidores, ainda sentia
certo aperto no coração.
— Passa rápido, parceiro — disse Dylan colocando o braço
no ombro do mais jovem. — Quando você menos perceber, ela estará com vocês
novamente!
Não se falou mais nada o caminho inteiro da volta para
casa. Hal e as irmã estavam tão maravilhados com o circo que por alguns
instantes esqueceram-se completamente de suas preocupações, era justamente o
que Dylan tinha em mente, eles precisavam esfriar a cabeça e divertir-se um
pouco.
Quando retornaram à mansão, a primeira coisa que Dia fez
foi começar a correr atrás do Meowth da família. Barulho e diversão tornou-se
comum na morada do Barão Maximiliano que vinha tendo momentos agradáveis com
suas visitas.
Dylan seguiu para seu quarto para tomar um bom banho,
enquanto isso Mili finalmente deitou-se em sua cama de braços abertos e
arrancou os sapatos que já machucavam seus dedos. Seu irmão deitou-se perto das
pernas da moça e foi subitamente atacado por seu Exeggcute. Os dois riram e
ficaram olhando para o teto adornado com desenhos de Pokémons Lendários, como
se fosse o de uma catedral. As cortinas esvoaçavam ao toque do vento morno e o
mormaço da praia.
— Hoje foi incrível — disse Miliani.
— Quando é que vamos voltar? — seu irmão perguntou sem
olhá-lo diretamente nos olhos.
— Não sei, Hal... A Kai deve estar preocupada,
precisamos começar a juntar dinheiro para reformar nossa casa. É meio injusto deixar
que o Dylan resolva tudo, e a vila inteira foi devastada, a Kai têm ajudado os
moradores locais com trabalho voluntário enquanto nós só ficamos aqui
aproveitando...
— Eu quis dizer voltar ao circo...
— Ah — ela sorriu e virou-se para ele. — Agora você tem
uma artista sob seus cuidados, terá de ficar de olho nela. Espero que eles
possam treinar sua Popplio com dedicação, ela se tornará uma verdadeira
celebridade!
— Vai sim — sibilou Hal, imaginando-a acima dos
pedestais. — O mundo inteiro vai conhecê-la...
Na manhã seguinte, a primeira decisão de Hal de onde
gastar seu dinheiro foi com sorvetes para todos no VaniDelluxe. Porém, para sua
surpresa, o local estava fechado desde a tempestade, a vila ainda não
conseguira se recuperar e muitos moradores não tinham sequer onde morar. Era
uma paisagem triste que assolava a antes tão bela e animada Melemele Island.
— Bem, espero que ainda estejam servindo o almoço em
casa — Dylan tentou animá-los.
Aproveitando a passagem pelo centro, Hal quis fazer uma
visita ao Esconderijo para saber se Ika e Uko estavam bem. Praticamente não
reconheceu a estrada que costumava frequentar — estava completamente destruída.
Havia apenas caixotes quebrados, pedaços de madeira e lixo revirado, como se a
cabana tivesse sido abandonado há muito tempo e o mar tivesse tratado de levar
o que sobrou dela. Pela primeira vez desde o incidente, sentiu-se culpado por
não procurar seus amigos antes.
— Será que eles estão... — Mili murmurou e Hal cerrou seu
punho.
— Não! Eles estão em algum lugar na ilha! Vamos procurá-los!
Os três passaram a tarde toda percorrendo as ruas e
trilhas da ilha. Não era difícil reconhecer dois sujeitos de pele escura, um gigantesco
e outro magricela, ninguém os conhecia ou se importava com eles. Dylan falou
que voltaria para a mansão para pedir ao mordomo Sebastian que chamasse seus
seguranças para que já ajudassem na busca.
Hal só fez uma parada por volta das cinco da tarde, ele
e sua irmã alcançaram a ponte que ligava ao porto, se Ika e Uko não estivessem
ali só poderiam ter pego um barco para outra ilha.
— Eu preciso descansar — falou Miliani, apoiando-se em
seus joelhos. — Vou voltar para a mansão e me encontrar com o Dylan.
— Não, não podemos descansar, Mili! Eles podem estar em
perigo.
Hal estava para recomeçar sua busca do começo quando
notou que uma pequena maçã mordida foi atirada de debaixo da ponte. Se conhecia
bem, os Leftovers eram marca registrada de um certo alguém. Ele desceu o
barranco até o riacho e deparou-se com Ika e Uko escondidos nas sombras, com
suas vestes costumeiras, só um pouco mais sujos.
— Ika! Uko! — Hal falou alegremente. — Vocês estavam
aqui o tempo todo?
— Fala, guri! Nosso Esconderijo antigo foi destruído, então
nós decidimos dar entrada em nosso mais novo local de trabalho... Conheça o
Santuário!
Estava completamente vazio, a não ser por alguns lençóis
e pedaços de papelão.
— Os tempos têm sido difíceis — disse Miliani, pensando
que ela também poderia estar morando na rua se não fosse pela ajuda de Dylan.
Hal tinha uma ideia em mente, só não sabia se estaria
sendo ousado demais.
O Sr. e a Sra. Maximiliano tinham a impressão de que sua
mansão começava a se tornar uma espécie de albergue. Dois sujeitos estranhos
agora entravam descalços nos salões chiques da nobreza e sujavam o assoalho, o
mordomo Sebastian não tirou os olhos deles e as próprias empregadas sentiram-se
um pouco desconfortáveis a princípio, mas logo o Barão esticou os braços em
sinal de compaixão.
— Bem, se são amigos de nosso Dylan, então são nossos
também! — disse Tio Max.
— Aproveitem e jantem conosco, devem estar famintos —
continuou a Sra. Renée.
Dylan achava a cena muito engraçada por nunca se
lembrava do nome daqueles dois sujeitos, vivia chamando Ika de Uko e vice
versa. Só tivera a chance de conhece-los um pouco melhor no aquário, mas fora o
suficiente para divertir-se e querer repetir a experiência. Seus pais já
estavam tão acostumados de vê-lo chegar em casa com estranhos que já não se
importavam.
Enquanto se dirigiam até a sala de jantar, Uko viu um
vaso muito bonito feito de cerâmica, retirado de escavações no fundo do oceano
em Unova. Ele viu o objeto brilhante e tocou com desejo, mas seu irmão Ika
deu-lhe um tapa forte na mão.
— Quê isso, rapaz? Tá ficando doido? Papai do céu tá
olhando!
— É que ele é tão... bonito — resmungou Uko, massageando
sua mão enorme.
Pela primeira vez em muito tempo, a mesa do banquete
estava cheia. Antes de começarem a refeição, Ika pediu que eles dessem as mãos
e fizessem uma rápida oração, agradecendo a hospitalidade e o carinho com que
eram tratados. Uko pegou o enorme pedaço de pernil e colocou-o inteiro em seu
prato, comendo como se não o fizesse havia pelo menos uma semana. A família do
Barão só não tinha se preparado para tantos convidados, por isso apressaram-se
em pedir que o cozinheiro preparasse mais comida.
— Aguentem só um instante, vou pedir ao meu chefe que
faça novos pratos. Os senhores têm alguma sugestão?
— Sei que eles adoram pizza — falou Miliani com uma
risada.
A Sra. Renée riu com a ideia.
— Céus, há quantas décadas não somos servidos com um bom
pedaço de pizza?
— Isso me lembra dos tempos em que meu pai ainda
cozinhava para nós — disse Tio Max com uma risada, sendo levado por memórias de
quase cinco décadas atrás.
— Vamos lá, meu velho, peça dez sabores diferentes! —
completou Dylan com empolgação.
Todos comeram até não aguentarem mais. As pizzas saíam
da cozinha a todo minuto, Ika e Uko começaram a comer com as próprias mãos e os
demais fizeram o mesmo até se lambuzarem por inteiro com as pizzas de
brigadeiro e banana com doce de leite. O Sr. e Sra. Maximiliano compartilharam
histórias e se divertiram com seus convidados, o simples vislumbre de mudança
trouxe mais cor e emoção na vida de dois velhinhos sem grandes expectativas.
— Acho que vou explodir — falou Uko, debruçando-se sobre
a mesa.
— Maluco, nunca comi tanto! — Ika falou como forma de
agradecimento a todos ali presentes.
Ika e Uko foram alojados em um segundo quarto de
hóspedes, pelo menos ali ficariam seguros e teriam conforto até que encontrassem
trabalho ou ao menos um lugar para morar. Quando se dirigia ao seu quarto, Mili
não sabia como agradecer Dylan pela calorosa recepção de seus pais.
— Mil perdões por todo o trabalho que estamos dando a
você e sua família...
— Tá brincando? — o loiro riu e olhou para os lados,
mostrando seus velhos pais que ainda riam e conversavam próximos à lareira, provando
aperitivos e degustando uma boa taça de vinho. — Já passa da meia noite e
aqueles dois estão acordados, há alguns dias atrás eles não tinham sequer
assunto para conversar. Vocês têm noção o que fizeram?
— Foi... algo ruim?
— Não, pô. Meus pais comendo pizza com as mãos na sala
de jantar! Eu nunca tinha visto isso na minha vida! É sério, se tem alguém aqui
que precisa agradecer, este aqui sou eu.
Miliani ficou encabulada, sentia-se constrangida com a
ideia de atrapalhá-los o tempo todo. Pelo menos assim se sentiria mais à
vontade. Mili deu um beijo suave na bochecha de Dylan e desejou-lhe boa noite
antes de voltar para o quarto. O surfista andava pelo corredor como se enfrentasse
uma onda feroz, mal conseguiu manter-se pé, por mais singelo que fosse o beijo
mexera com ele. Já era um avanço.
Mili estava para ir deitar-se quando notou que seu irmão
não estava na cama. Hal puxara uma cadeira de praia e agora contemplava o céu
noturno na varanda com Dia em seu colo. Sua irmã acariciou seu cabelo e pediu
que não demorasse, afinal, os dois tiveram um dia cheio e agitado.
O menino continuou ali por cerca de meia hora, nenhuma
nuvem cobria o céu e ele tinha muito o que pensar sobre sua vida e o que o
aguardava dali para frente depois que as férias acabassem. Dia já adormecera em
seu colo, ele estava para levar seu cachorrinho para dentro quando avistou um estranho
brilho que percorreu o céu.
Pensou tratar-se de uma estrela cadente, era a primeira
vez que via uma. Não sabia se deveria fazer um desejo ou uma oração como Ika
sempre fazia. Ele entrelaçou suas mãos e se certificou de que sua irmã já
estava dormindo, ficaria meio desconfortável caso alguém estivesse ouvindo. Não
queria pedir nada, só agradecer, mas tentou mesmo assim.
— Oi, estrela. Obrigado pela viagem ao circo hoje, foi
muito divertido. Obrigado pela companhia tão divertido e por cuidar de meus amigos
quando eles precisaram. Obrigado por nos proteger. Eu gostaria que esses dias
nunca mais acabassem, e... É. Acho que eu sou uma criança muito feliz.
Hal terminou de agradecer e abriu os olhos, mas percebeu
que a estrela continuava no céu cada vez mais próxima, como se viajando pelas
galáxias. Ela então emanou um brilho mais forte e caiu da estratosfera diretamente
no meio da mata, no topo da montanha ao lado da mansão, causando um estrondo e
um clarão forte como se fosse um trovão.
Esse dono do circo ,eu suspeito dele ,qualquer pessoa que deshonre o poderoso Bidoof não é de confiança ,além disso,isso me lembra ''O verdadeiro Exeggutor era nativo das Ilhas Laranja, trabalhava em um circo de um homem terrível que o utilizava como aberração para seu espetáculo, de forma que todos os espectadores atirassem objetos na criatura que nada podia fazer além de encolher-se em sua jaula e temer pelas agressões. ''
ResponderExcluirYou've met with a terrible fate, haven't you?
PS : Não perderam tempo de botar a Tsareena na historia , essa Pokemon é praticamente a Gardevoir de Alola
ExcluirMuito bem notado, companheiro Donnel! Está na hora de dar um pouco mais de participação ao nosso Barão antes de concluirmos a fic, tanto é que este é exatamente o motivo pelo qual acabei estendendo a história em dois capítulos, não dava para desenvolver a trama como eu gostaria.
Não vai dar para contar toda a história do que rolou até ele ir parar nas Ilhas Laranja, mas já é o suficiente para termos uma noção da origem desse vilão que eu tanto adorava na época de Sinnoh :') E pode desconfiar à vontade do dono do circo, vai ter plotwist clichê e pancadaria, afinal, não dá pra eu concluir fic sem um pouco de drama e sofrência! Vamos matar alguns personagens... *risada maléfica*
Ah, e eu queria muito poder trabalhar com a Tsareena, cara! Infelizmente não vou conseguir fazer nada legal com ela aqui no Ohana Dreams, no máximo vão ser algumas citações igual a esse capítulo, então terei de deixar isso para o Doris. Mas que Tsareena é a Gardevoir de Alola, isso não posso negar ( ͡° ͜ʖ ͡°)
Eu não consigo acreditar que Hal deixou mesmo sua Popplio ficar no circo... com desconhecidos! Eu percebo que isso seja o sonho da pequena foca e o dinheiro também seja preciso para a família mas eu não confio naquele dono do circo!!! VEM DRAMA!
ResponderExcluirAi eu adorei essa cena mais relaxante em casa de Dylan! Tudo comendo pizza à mão! Até sabe diferente e melhor não há!
E esse estrela que caiu do céu??? Gente, o que é isso!?!?!?
Essa coisa de abandonar Pokémon em prol dos sonhos me lembra alguém, não é mesmo, SENHOR ASH KETCHUM? Jamais vou superar a Butterfree kkkkk
ExcluirAMO COMER PIZZA COM A MÃO! O sabor fica até melhor kkkk
E essa cena da estrela me fez lembrar que naquela época era tão difícil conciliar o enredo da fic com os novos Pokémon que iam aparecendo bem aos pouquinhos, acho que quando postei esse capítulo faltava apenas algumas semanas para sair Sun e Moon e todo mundo estava naquela ansiedade! Bons tempos, bons tempos.