Posted by : CanasOminous 2 de out. de 2016

Dylan atravessou a cidade correndo e não pôde deixar de sentir tristeza pelo estrago causado na última noite. A súbita mudança no tempo se deu por conta de uma ventania vinda do noroeste produzida por grandes massas de ar em alta velocidade de rotação, ultrapassando os 88km/h. O pequeno vilarejo de Melemele havia sido parcialmente destruído e demoraria meses para se recuperar, árvores foram arrancadas de seus lugares e casas terminaram completamente destelhadas. Diante de tamanha destruição, Dylan seguiu o mais rápido que pôde até a praia onde os Kameahookohoia moravam, mal reconheceu a estradinha de terra que dava na entrada, pois o rio havia subido de nível e coberto toda a área, obrigando-o a tomar um caminho mais longo para chegar ao seu objetivo. Sua busca prolongou-se em dez minutos, no caminho deparou-se com policiais e bombeiros, seu coração começou a acelerar, temia pelo pior.
Viu de longe o deslizamento causado, havia uma enorme pedra que caíra da montanha e fora milagrosamente bloqueada, permitindo que a pequena casa onde seus amigos moravam continuasse intacta.
Mili estava sentada sobre o tronco de uma árvore caída com as mãos no rosto, desolada. Kai conversava com dois policiais, Hal foi o único que o viu assim que chegou:
— É o Dylan! — a criança exclamou com entonação, como se tivesse acabado de receber a notícia de que seu super-herói favorito chegara para salvá-los.
— Maninho, fico feliz que estejam bem. Aquela tempestade de ontem me assustou a beça, eu estava para sair no meio da chuva para vir ver se estava tudo bem com vocês — respondeu o surfista.
Hal e Dylan olharam para o estrago causado nos arredores. A paisagem linda que um dia existira ao abrir a janela estava totalmente coberta por lama, folhas e pedras; a calmaria fora substituída pelo som de sirenes. O vento que soprava, o barulho das ondas ainda, tudo ainda era o mesmo. A natureza seguia seu ritmo.
— Poderia ser pior — disse Hal de forma tranquila, demonstrando mais maturidade em lidar com a situação do que muitos adultos.
— Você é um garoto forte — Dylan agachou para ficar na sua altura e tocou seu ombro. — Um dos mais fortes que já conheci.
Dylan pensava que uma chuva forte não era nada de perder seus pais, seu porto seguro. Contanto que Hal, Mili e Kai estivessem seguros, o resto poderia ser conquistado com muito esforço e paciência. Desde então, nada mais o abalava.
Hal contou-lhe a história do Exeggutor que os salvara de uma catástrofe. Tudo que restara era um Exeggcute indefeso que agora perambulava pelos arredores em busca de sementes, uma lembrança tênue da grandiosa criatura. Dylan se comoveu com o ocorrido, achava incrível a maneira como os Pokémon muitas vezes se sacrificavam pelo bem dos humanos, fosse por vontade própria ou por essa simplesmente ser esta a sua natureza.
Mili abraçava seus joelhos e chorava baixinho, o surfista sentou-se ao seu lado e procurou alguma forma de alegrá-la, mas num momento como aquele era impossível. Mili não se contentou com a distância e o envolveu com os dois braços, explodindo em lágrimas.
— O que eu faço agora, Dylan? — Mili lamentou. Sua vida inteira estava no chão.
— Por hora você deve descansar — Dylan murmurou, afagando seu cabelo prateado. — Fico feliz que estejam todos bem, nada é mais importante do que a segurança de vocês.
Os bombeiros alertaram o perigo que a área corria de sofrer novos deslizamentos, por isso Hal e sua irmã não poderiam passar ali na noite.
— Não se preocupe, eles vão entender que a situação é uma emergência — disse Kailani. — A cidade inteira está devastada, todos precisam de ajuda. Nossos pais se conhecem de longa data e até iam pescar juntos no pantanal, algum resquício dessa amizade deve ter durado entre nossas famílias.
Mili sabia bem que os pais de Kailani não gostavam nem um pouco quando a filha trazia suas “amigas” para passar um tempo com eles. Os anos se passaram e eles nunca aceitaram sua orientação sexual.
— Eu não sei, Kai... Você sempre me contou as histórias das garotas que levou lá, eu não gostaria de ser mais uma delas — disse Mili, sua voz quase desaparecendo.
— Mas é diferente! Vocês precisam de um lugar seguro para passar a noite! Vai ser só por um tempo, enquanto estivermos lá teremos de nos comportar. Eles precisam entender.
Dylan ouvia a conversa logo ao lado, por isso não pôde deixar de sugerir:
— Bem, se o problema for um lugar para descansar — sua voz falhou, demonstrando certo acanhamento raro por parte dele — acho que poderiam ficar em casa...
Mili olhou para ele, mas naquele instante não se sentiu envergonhada com a ideia de dormir uma noite na casa de um rapaz. Sua vontade em ajuda-la era tamanha que ele poderia ceder seu próprio quarto se necessário, não ligaria de ficar na sala. Kailani também não sentiu inveja, reconhecia que levar seus amigos para a casa de seus pais era uma péssima ideia e só deveriam leva-la em conta se não houvesse nenhuma outra opção.
Um pouco envergonhado, Dylan procurou explicar-se melhor:
— Olha, não pensem que estou tentando me aproveitar da situação nem nada, mas é que essa casa de versão que nós temos é bem grande e tem espaço de sobra. Eu tenho certeza de que vocês poderiam levar seus pertences pessoais e ficar com um quarto à parte sem incomodar ninguém. Meus pais não vão se importar, pelo contrário, eles adorariam receber meus amigos em um momento de necessidade e com toda certeza vão acolhê-los como parte da família.
— Mesmo tendo um Rockruff, um Popplio e um Exeggcute para acompanhar? — indagou Hal.
— Eles adoram Pokémons exóticos! — disse Dylan com uma risada. — Algumas criaturas novas certamente trariam novos ares para aquela casa.
Kailani e Miliani trocaram olhares, dava para notar que concordavam com a ideia. Seria ótimo ter um lugar para ficar até que a vila se recuperasse, seu psicológico estava muito abalado, mantê-la afastada e longe de eventuais preocupações era a prioridade. Vendo que não teria outra oportunidade como essa, Mili aceitou a hospitalidade.
Reuniram todos seus pertences pessoais em uma mala, Hal lamentou em ter de deixar suas coleções para trás, mas a polícia garantiu que a área ficaria em vigilância e nenhum ladrão entraria para roubar o que restou lá dentro. Eles pegaram apenas algumas trocas de roupas além da que estava no corpo e logo partiram numa viagem emergencial.
Kailani se despediu do grupo por hora, precisava muito visitar alguns amigos para ter certeza de que estavam bem, ajudaria na busca por feridos e procuraria auxiliar no que estivesse ao seu alcance. Hal estava muito preocupado com seus amigos Ika e Uko que moravam no Esconderijo e tão próximos da praia. Por hora, só podia desejar que estivessem bem e seguros.
Dylan carregou a mala de Mili o caminho todo, procurando formas de interagir e entretê-la, livrando qualquer pensamento pessimista que a assombrava nos últimos dias, mas era difícil tirar o barulho das sirenes da cabeça. Hal corria mais a frente, seus Pokémon brincavam como se nada tivesse acontecido, era como se a chuva forte da noite passada tivesse varrido as impurezas do mundo e trazido uma manhã renovada de brilho e sol.
— Vocês vão gostar do lugar — recomeçou Dylan. — A primeira impressão vai ser um pouco chocante, mas logo vocês se acostumam e começam a ver que é uma casa normal como todas as outras. Apesar de ter uma fonte bem na sala de entrada...
— Por que vocês têm uma fonte dentro de casa? — perguntou Mili.
— Sei lá, meu pai achava chique, agora só serve como moradia para uma porção de Pokémons aquáticos como Poliwags, Tympoles e Lotads.
Mili riu com a ideia. Era seu primeiro sorriso naquele dia.
Logo Hal voltou para perto de seus amigos com o pequeno Exeggcute nos braços.
— Pessoal, me ajudem a pensar em um nome para ele? — perguntou Hal.
— Osvaldo — sugeriu Dylan.
— Que nome horrível — respondeu Hal, caindo na risada.
— Era o nome do meu pai — respondeu Dylan. O garoto não soube onde enfiar a cara, sua irmã não se aguentou de rir.
— Eu estava só brincando, meu pai é um velhinho bondoso chamado Maximiliano, mas todo mundo o chama de tio Max! Ele treina Pokémons metálicos.
— Max Steel — Hal também riu, voltando a correr pela estrada vazia.
Dylan ficou contente em saber que conseguira arrancar um sorriso mesmo que discreto de Miliani. Ela com certeza estava abalada, mas aos poucos iria se recuperar.
— Para uma criança que não queria ser treinadora até o começo das férias, ter três Pokémon sob seus cuidados já é um belo avanço, não acha?
— Eu não quero ser treinador — respondeu Hal. — Não gosto dessa coisa de ginásios e Liga Pokémon... É tudo tão confuso para mim. Na verdade espero que isso nunca chegue até Alola e que o povo daqui encontre uma forma diferente do mundo recompensar as pessoas esforçadas! Através da amizade com os Pokémon podemos fazer muito mais do que simplesmente lutar por insígnias e títulos.
— Falou bem maninho. Quando crescer tenho certeza de que vai ser alguém muito influente em Alola — disse Dylan.
Ao chegarem à casa do surfista, Miliani poderia jurar que aquele era um dos hotéis cinco estrelas que sempre via na beira do mar. Já passara por ali pelo menos cinco vezes, mas estava sempre vazio e desocupado, nunca imaginou que algum dia teria a oportunidade de conhecer seus proprietários. Chamar de casa era um ultraje — o lugar parecia uma fortaleza, uma verdadeira mansão do século XIX. Mesmo após a chuva da noite anterior, jardineiros e empregados já trabalhavam em toda a limpeza do quintal que estava impecável. Os portões brancos tinham estátuas de Rhydons e a fonte no centro trazia um belo Magikarp que cuspia água limpada. Goldeens e Poliwags, trazidos diretamente de Kanto, nadavam com tranquilidade e suavidade.
Assim que Dylan chegou ao portão ele tocou o interfone, um homem de terno e bigode foi atendê-lo, suas vestes eram finas em tons de azul e verde, ele tinha um monóculo no olho direito e seus cabelos eram todos grisalhos. O velho fez um cumprimento cordial para Dylan que acenou com o polegar em resposta.
— Diga aí, Sebastian. Como é que estão as cosias?
— Perfeitamente em ordem, senhor — respondeu o homem.
Mili juntou os ombros e tentou cumprimenta-lo da forma mais educada que conhecia. Lera em uma revista sobre os costumes orientais que as pessoas curvavam a fronte para visitas, os mais velhos, pessoas de respeito; nunca imaginou que teria a chance de usar tais modos no fim de mundo onde morava.
— É um prazer conhecê-lo, meu senhor, garanto que não seremos um incômodo para seu filho e sua família!
Dylan olhou para ela, agindo de forma toda educada sem nem entender ao certo por que fazia aquilo, por isso caiu em gargalhadas ao ver a situação.
— O Sebastian é só meu mordomo!
A garota não soube onde enfiar a cara, mesmo assim, o velho manteve a compostura e agradeceu o cumprimento, logo guiando as visitas para dentro.
O salão era espetacular, como se tivesse saído diretamente dos casarões mais chiques de Kalos. Era cômico ver Dylan andar pelos corredores de mármore com a camisa aberta, shorts e chinelos nos pés, um completo contraste. Ele tratava todos os funcionários com respeito e carinho, conhecia cada um deles por nome, contou que num dia quente de quase 40 graus obrigou todas as empregadas e empregados a andarem por aí com roupas de banho.
— Vê-las de biquíni foi ideia sua, não é? — Mili brincou e Dylan não pôde esconder a verdade, senão concordar.
Seus pais o aguardavam na sala de jantar, sentados um em cada ponta de uma enorme mesa feita sob medida para pelo menos vinte e cinco convidados. Deitado sobre uma cama luxuosa com cobertas e adornos em prata havia uma Meowth fêmea de cor azulada, um raro espécime de Alola voltado especialmente para a realeza.

          Eles não esperavam visitas e estavam bem no meio de um almoço luxuoso com direito a ostras, lula à dorê, camarões e outros frutos do mar, havia também receitas de canapé feitas por dois cozinheiros contratados somente para variar com sua smelhores receitas todos os dias. O casal degustava de um vinho tinto engarrafado em Sinnoh, safra de 1947, mesmo não sendo nenhuma data especial. Eles eram completamente diferentes de Dylan, tinham idade para serem seus avós. O pai era da mais alta classe em Kalos, onde recebeu o título de barão. Mudou-se para Hoenn para estudar Pokémons metálicos e acabou sendo indicado para trabalhar na Corporação Devon na área da administração. Barão Maximiliano, era como o conheciam, sua esposa era a baronesa Renée, uma mulher de puro luxo com vestidos caros e colares de joias.
— Pappz, Mammis, esses dois são os amigos que conheci na sorveteria outro dia! Miliani, a dançarina do luau, e seu irmão Hal.
— É um prazer conhecê-los — disse-lhes Mili, depois sussurrando no ouvido do rapaz: — Dessa vez estou falando com a pessoa certa?
— Encantada — disse a senhorita Renée num gesto teatral. — Ficamos sabendo do estrago na vila, é realmente um grande lamento.
— Já ficamos sabendo que vocês vão passar um tempo aqui, os quartos foram devidamente preparados, sintam-se em casa — respondeu o senhor Maximiliano em uma surpreendente calorosa recepção, levantando-se para cumprimenta-los. — Gostariam de juntar-se a nós em nossa recepção?
— Não, senhor, estamos ótimos! — disse Miliani, extremamente encabulada. Só aquelas ostras deveriam custar mais do que seu salário do mês inteiro.
Dylan recomeçou então:
— Meu pai ficou famoso em Hoenn por trabalhar na Corporação Devon, ele praticamente fundou essa empresa ao lado do renomado Sr. Stone, um homem distinto muito capacitado e que compartilha o entusiasmo por Pokémons fósseis e pedras preciosas. Os dois cresceram juntos e colaboraram muito para o crescimento da empresa. Eu, sinceramente, não entendo nada disso, mas é bacana!
Um cãozinho passou correndo pelo salão assim que avistou o Meowth na sala e quase derrubou a Sra. Renée que se apoiou no marido. Diamante, o Rockruff, corria empolgado atrás de tantas figuras novas, as criadas se reuniram para afagar o cãozinho que nunca antes recebeu tanto carinho.
— Vejam só, são tantas criaturas diferentes! E o que temos aqui? — disse o Barão Maximiliano, analisando também o Popplio de Hal com cuidado. — Eu nunca vi um Pokémon como esse. Seria ele um Spheal anoréxico?
— Eles são nativos aqui de Alola, senhor — disse o menino. — Vocês deveriam ir visitar o Maior Aquário do Mundo qualquer dia desses, lá é cheio de Pokémons legais!
— Oh, com certeza iremos, meu jovem — o velho sorriu em resposta.
Uma criada chamada Camille levou-os até os quartos de hóspedes, Mili encantou-se com o lugar à primeira vista. Só o quarto era praticamente do tamanho de sua antiga casa, a cama king size cabia quatro pessoas e a banheira mais se parecia com uma piscina. Dylan sugeriu que Hal ficasse com um quarto só para ele, mas Mili preferiu que seu irmão dormisse com ela para que não ficasse aprontando depois de apagarem as luzes.
— Pelo menos assim fico de olho nele — falou Miliani.
— Então, acho que é isso —Dylan enfiou as mãos no bolso, sem saber muito bem como conter a ansiedade em ter visitas tão especiais. — Seu novo lar. Por enquanto. Vamos trabalhar para reconstruir sua casa, mas até lá se sintam à vontade mesmo, nada de me tratarem diferente agora que sabem minha origem.
Mili olhou para ele e encheu-se de compaixão. Na primeira vez que o viu, poderia julgar que Dylan era apenas um cara interesseiro que gostava de sair com garotas e mostrar tudo que tinha, mas cada vez que o conhecia mais afundo enxergava nele um sujeito que se preocupava muito com a família e valorizava o esforço para chegar até a posição em que se encontrava hoje.
— Obrigada. De verdade — falou Mili. — O que você está fazendo por nós não pode ser medido com palavras.
— Não esquenta. Se dependesse de mim, vocês viveriam aqui comigo para sempre! Eu gosto muito de companhia, sério, mas algumas vezes o dinheiro afasta as pessoas e nós acabamos atraindo só alguns parasitas... É preciso nos livrar das frutas podres, mas tem vezes que já abocanhamos tudo até descobrir que tinha bichos dentro. Eca.
Mili riu com a metáfora. Dylan era engraçado, às vezes um pouco estranho ou bobão, mas sentia-se profundamente à vontade perto dele.
— Quando nos conhecemos lá na sorveteria VaniDelluxe, eu poderia jurar que você era mais um desses gringos surfistas cafajestes que vivem dando em cima de mim, e... você se provou diferente.
— Devo levar isso como um elogio? — Dylan riu.
— Claro — ela ajeitou o cabelo atrás da orelha, um claro gesto de flerte. — Não se importa com o que os outros dizem ou pensam de você.
— Eu preferi levar uma vida diferente. Imagina só: Eu lhes apresento o Duque Dylan, diretamente das terras de Hoenn, andando por aí feito um Pipluo desengonçado com ternos apertados e sapatos envernizados!
Mili riu novamente, depois segurou de leve sua mão, levando-a até seu rosto.
— Mais uma vez, obrigada.
Mantenha o controle, rapaz, ela já é compromissada! E com uma garota.
— Eu é quem estou ficando sem graça de tanto que você me agradece — disse Dylan, procurando mudar de assunto o mais rápido possível. — E aí, Hal, quer dar uma olhada na minha coleção de figuras de ação?
— Tô dentro!
Os dois saíram, deixando Mili a sós. Ela desfez sua mala que coube numa única gaveta, olhou bem para o quarto, e se aquele era apenas o de hóspedes, mal conseguiu imaginar como seriam as suítes máster. Pouco depois, dois Ludicolos entraram com passos dançantes, deram uma volta na garota e lhe trouxeram um roupão branco, produtos de beleza e roupas trocadas. Mili leu a carta com a grafia da própria Sra. Renée que dizia apenas: Bom banho! A água já estava fervendo e com espumas por toda a parte. Poderia levar a frase “banhada a ouro” ao pé da letra.
E como ela adorava banhos, não demorou um segundo sequer para arrancar as roupas e dar um pulo na banheira que transbordou para todas as direções. Por um instante foi como se não existisse contas, tempestades ou obrigações. Suas preocupações foram varridas pela água, evaporando e subindo...
Gostaria que Kai estivesse ali com ela.


Dylan levou pelo menos quarenta minutos para mostrar toda a casa para Hal que caminhava e analisava cada detalhe com empolgação. Nunca ligara muito para coisas caras e sofisticadas, mas teria algumas histórias bem legais para contar para seus amigos quando as férias acabassem. No caminho, o Sr. Maximiliano encontrou os dois e fez uma rápida parada para perguntar como estavam as coisas.
— E então, meu jovem, sente-se à vontade?
— Com certeza, Senhor Barão. É tudo muito incrível. Juro que vou tentar não destruir nada até que voltemos para nossa casa.
O velho riu e divertiu-se com a criança.
— Oh, pode me chamar apenas de tio Max. É uma pena o que aconteceu com a morada de vocês, a estrutura foi muito danificada?
Hal repetiu a história do Exeggutor e o Barão se emocionou com seu desfecho.
— Mas que bela história, a natureza cumprindo com sua parte. É como meu pai dizia: O universo não tira algo de nós sem dar algo em troca. Pois saiba, meu jovem, que tempos melhores virão e tudo vai melhorar para você e sua irmã, isso eu garanto. Quando crescer, continue contando essa história para seus filhos, seja você também a torre da sua família, o pilar; pois um pai tem a obrigação de passar segurança e garantir um futuro até que os filhos tenham idade para encarar a vida por si sós.
— Eu guardo muitas lembranças boas dele — disse Hal, sendo atingido por algumas lembranças de seu falecido pai. — Prometo que tornarei grande como ele, como o senhor.
O Barão sorriu e afagou seus cabelos antes de retomar seu caminho pelos corredores de mármore.
A viagem pela casa era praticamente um tour pelo Maior Aquário do Mundo, de tão grande que era. Dylan andava com as mãos no bolso até que os dois pararam na varanda, onde tinham vista para todo o jardim. O Rockruff corria solto pela grama enquanto acompanhava o Exeggcute que se divertia com algumas Roselias curiosas com a visita de Pokémons nativos.
— Decidi o nome do meu Exeggcute — falou o menino.
— Não gostou de Osvaldo?
— Nem. Ele vai se chamar Barão Maximiliano, em homenagem ao seu pai!
Dylan teve de segurar uma lágrima.
— Maninho, essa é a maior homenagem que você poderia fazer. Me dá um abraço!


Três dias se passaram com os Kameahookohoia vivendo na morada do Barão e da Baronesa. Acabaram se apegando aos costumes e trejeitos da família, o mordomo Sebastian os atendia como membros da nobreza e a criada Camille adorava ouvir as histórias do povo de Alola. Os Ludicolos dançantes traziam pratos exóticos no banquete que era servido três vezes ao dia, sem contar o lanche da tarde e as madrugadas quando Dylan e Hal desciam para pegar salgadinhos e refrigerantes na geladeira.
Durante aquela semana, Kailani não conversou e nem foi visitar Mili. Ela provavelmente ainda estava muito ocupada trabalhando com o serviço voluntário para ajudar a vila de Melemele a se recuperar. Também não tinha sinais de Ika ou Uko, e aquilo começava a preocupar. MIliani começava a sentir-se profundamente incomodada, aproveitava do bom e do melhor enquanto havia pessoas e conhecidos passando sufoco. Sempre que tentava livrar tais pensamentos, algo lhe dizia que precisava se despedir logo daquela vida cheia de mordias e voltar para o mundo normal.
Estava muito nervosa e apreensiva. Seus amigos trabalhavam para recuperar a ilha à sua forma mais gloriosa e receptiva. Alola dependia do turismo, em breve a temporada de turistas iria recomeçar e ela precisaria voltar ao trabalho na Cabana do Luar para pagar as contas, reconstruir sua casa, quitar as dívidas no banco além de pagar a escola de Hal e quem sabe sobrar alguma coisa para tentar cursar sua faculdade de publicidade no exterior que tanto vinha sonhando.
Naquela manhã, Dylan chegou com uma notícia incrível para dar a eles.
— E aí, galera! Vocês não vão acreditar no que está na cidade!
Não havia ninguém no quarto. Estava vazio, a não ser por dois Ludicolos, quietos e obedientes, parados na porta do banheiro com duas toalhas entre os braços.
— Donald e Patolino — falou Dylan. — A Mili e o Hal estão no banho?
Eles fizeram que sim com a cabeça.
— Não vou incomodar.
— Dylan, é você? — uma voz ouviu-se lá de dentro quando uma fresta foi aberta na porta, liberando tanto vapor que mais parecia ser uma sauna. — Entre, por favor, estávamos te esperando.
Dylan entrou no banheiro e a fumaça ocultou completamente sua visão, os espelhos estavam completamente embaçados e o chão escorregadio. Ele ainda não tinha ideia de como Miliani era fissurada por banheiras, ler revistas de banheiros era um estranho hobbie da moça que nunca tivera a oportunidade de visitar um tão chique quanto aquele.
— Mili? Cadê vocês? Parece até que soltaram um Torkoal aqui dentro!
— Ah, Dylan, venha se juntar a nós! — ele ouviu uma voz feminina em algum lugar.
Dylan estava com tanto calor que precisou tirar a camisa, ficando apenas de shorts. O banheiro parecia até um labirinto. Conforme andava, sentiu algo puxá-lo para dentro da banheira. Veio um toque escorregadio de suas pernas até suas coxas, um arrepio percorreu sua espinha.
— Caramba, Mili, o que aconteceu com você hoje?
— Do que você está falando? — ele ouviu a voz. — Eu estou aqui.
Dylan forçou a visão por entre a cortina de fumaça e somente então notou que Mili estava do outro lado de biquíni, lavando as costas de seu irmão. Quando olhou para baixo, notou que era a Popplio que se esfregava nele com tanto interesse e pudor que poderia dizer que estava apaixonada por ele. Era a primeira vez que nadava em águas aquecidas, estava acostumada às águas geladas do mar, mas se continuasse ali talvez nem quisesse mais voltar. Até mesmo Dia estava no banheiro, o cãozinho estava todo encharcado parecendo um alienígena de tão magrelo que era sem o volume de seus pelos. Ali perto o Exeggcute praticamente cozinhava com uma toalha na cabeça.
Mili jogou um balde de água nas costas de seu irmão para terminar de enxaguá-lo e o mandou pular na banheira.
— Nunca vou me cansar desse lugar — ela disse para o anfitrião. Dylan estava deslumbrado com a visão dela só de biquíni.
— Fico feliz que estejam gostando — eles se encararam por um tempo, Mili corou de leve ao notar que ele a contemplava dos pés à cabeça. — Ah, sim, eu ia falar que chegou um circo na cidade. Ele é nativo das Ilhas Laranja e é um dos mais famosos de lá, tem atrações únicas, palhaços, malabaristas, é o máximo!
— Incrível — falou a moça, não demonstrando a mesma inquietação. — Bem, você deveria ir.
— Sozinho? Nunca. Jamais. Já comprei o ingresso de vocês.
— N-não, Dylan, você não fez isso...
— Fiz, sim. E nós hoje à tarde.
— Eu nunca fui ao circo!
— Sempre tem a primeira vez.
— E se eu me assustar com alguma coisa?
— Bom, você tem medo de palhaços? Porque se tiver, eu também tenho um cagaço, então podemos dar as mãos e sair correndo de lá o mais rápido que pudermos!
Mili riu alto e concordou com a cabeça.
— Se for com você, acho que vou ter que aceitar.
— Eu gosto da ideia — Hal entrou na conversa. — Penso até em levar a Chefe, ela adora essas artes circenses, acho que leva jeito para o lado artístico!
— Pronto, então já temos um programa garantido para hoje. Terminem o banho e se aprontem, vai ser um programa maneiro e poderemos nos divertir à beça.
— Já estamos nos divertindo tanto aqui, Dylan — falou Mili, puxando-o para dentro da banheira até a altura dos ombros e depois envolvendo seu pescoço com os dois braços conforme se aproximavam. — Eu não poderia pedir por nada melhor.

   

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  1. Para ficar o Capitulo mais perfeito ainda, e na minha lógica, agora só faltava nessa banheira/sauna alguma bebida, dando origem então a uma grande bebedeira entre personagens, conversas estranhas entre personagens, comportamentos muito interessantes entre personagens, uma delas engravidar, colocar chifres a namorada(o)... Álcool = Filhos, Traição, Chifres... Ninguém vai entender esta referencia estúpida.... E ainda bem! kkkkk Eu sou muito malvada para personagens...


    Um mordomo chamado Sebastian? Só por curiosidade, eu tenho quase sempre um personagem chamada Sebastian, que é um mordomo ou criado, nas minhas historias! kkk

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    1. Até daria para colocar algumas bebidas, mas qual é, ainda temos crianças no recinto! kkkkkkkkk Vamos arrancar o Hal da história por alguns capítulos e centrar a atenção só na Mili e seu triângulo amoroso :v kkkkkkkk Mas é engraçado, mesmo como autor eu não sinto muita química pelo casal Mili x Dylan, sou mil vezes MilKai! Esse foi apenas um capítulo de transição entre os acontecimentos da tempestade e a entrada nos momentos finais da história, mal posso esperar para voltar a atenção à essas duas, foram elas que me fizeram querer seguir com o roteiro e preciso por isso tenho de trazer um desfecho adequado kk

      Mas gente, sua história vai ter até gravidez indesejada? kkkkkkkk Agora já sei quem são os personagens envolvidos, isso mudou completamente minha visão sobre eles, vai dar muito trabalho controlar esses hormônios!

      Ah, mordomos chamados Sebastian estão por toda parte! kkkkkkkk Mas ele não terá muita relevância aqui na fic, foi só um nome qualquer que surgiu mesmo.

      Fico feliz que tenha curtido, Shii! Valeu pela presença :)

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    2. Em Dreamian ,Álcool tem o mesmo efeito do Carnaval (Filhos,Traição ) , sem exceção (40% dos personagens da historia surgiram assim)

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    3. Sebastian = Mordomos
      Eu não sei porque tem tantos mordomos com esse nome por toda a parte, mas eu simplesmente amo! kk


      Ninguém sabe a dimensão da coisa, a forma como eu estou a distribuir tanta proteção e a evitar dar tanta bebida e comprimidos milagrosos a meus personagens... :v

      Evitar bebedeiras, sexo, gravidez, chifres e outras coisas no meu livro dá muito trabalho, e eu não vou conseguir me conter para sempre...

      No livro a coisa é muito diferente e tem que ser diferente do que naquele jogo do Continue a Historia do meu blog... Eu quero que minha historia seja um bom exemplo... (Ou não...)


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    4. Eu pensei que você estivesse falando dos seus três personagens de Dreamian, Aimar, Fiora e Silvia. Eles formam um triângulo, né? Pensei nisso pela imagem da tirinha que você lançou kkk Achei que fossem eles que tivessem algum tipo de relação e isso acabasse terminando em gravidez ou coisa do tipo, seria realmente interessante ver três raças se misturando e gerando tanta intriga assim! kkkkkkkkk Mas do Continue sua História de vocês não conheço.

      É um assunto muito interessante para se trabalhar em livros, requer um pouco de cuidado, claro, ainda mais tratando de um público infantil que seria o nosso, mas não deixa de ser interessante! Geralmente as pessoas têm medo de falar desse tipo de coisa, é como se fosse um tabu, mas creio que seja possível passar uma mensagem bacana dependendo de como for tratado.

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    5. Tipo, 80% dos casais alguém chifrou alguém ,e eu não estou aumentando o numero ,só me vem a cabeça dois casais que não se trairão ,e eles só aparecem no fim da historia (Eu provavelmente sou pior que a Shiny com os personagens )


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    6. Aimar, Fiora e Silvia... Ai esses três... Eu sinto que passei uma visão um pouco errada da Sílvia, mas realmente vai ter muito conflito amoroso ai! kk Ninguem sabe a forma como eu estou a evitar fazer eles, especialmente o Aimar, se afastarem o máximo possível da bebida...

      O assunto de misturar raças é muito interessante, ele foi explorado nesse próprio jogo, para ver melhor a coisa, o resultado é que teve uma personagem que teve para ai uns 5 abortos de híbridos deformados a conta disso...

      Eu admito que pretendo usar no meu próprio livro esse assunto, porque tipo... Dá inúmeras possibilidades para guerras e coisas assim e é algo que se vê pouco nas historias de fantasia... (E seria muito interessante ver um Telquine híbrido de Kinnara, entre outras raças...)

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  2. Chefe tem um talento para Circo ,isso não é Spoiler ,mas o Barão Maximiliano vai se tornar um artista de circo ,ou seja

    O Próximo capitulo vai ser bem interessante

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    1. Vai ser interessante explorar esse lado do Barão Maximiliano, até porque ele já teve aparições em Sinnoh e na extinta Ilhas Laranja mesmo, o que vou tentar fazer é explorar mais do passado do Barão original de forma que ele combine com os futuros acontecimentos na Aliança Aventuras. Não mostrarei ele sendo capturado pelos Rockets ou sofrendo terríveis experiências, mas sabemos que algo de ruim o aguarda e isso já é bem triste por si só ):

      Nossa linha cronológica é meio confusa porque vira e mexe saem e entram novos membros, mas pelo menos quanto às conexões de Sinnoh eu garanto que há certa sincronia kkkkk Já terminei de anotar os rascunhos principais dos últimos três capítulos e espero começar a escrevê-los o mais rápido possível para encerrar Ohana Dreams antes do lançamento dos jogos em Novembro!

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  3. Canas, você está deixando as coisas dificeis para mim! Eu quero shippar Mili e Kai, mas o Dylan parece ser uma bomboca que eu nem imagino! E para além disso, ele é uma boa pessoa e está sempre a ajudá-los!

    Eu adorei esse capítulo, as descrições e as introduções das novas personagens ficaram muito interessantes, assim como as relações entre todos eles que se fortificam cada vez mais!

    Ansioso para saber o que vai acontecer nesse circo!

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    1. Eu fiz o possível para que o Dylan também fosse um bom partido, a Mili tem todo aquele amor pela Kai que é uma amiga de longa data, mas o Dylan também está sempre disposto a cuidar dela e ama com muita sinceridade. Não existe um lado vilão, sabe? Deve ser difícil estar apaixonado por duas pessoas ao mesmo tempo e ser correspondido pelos dois lados hahah

      Opa, se o circo já vai começar então as coisas vão esquentar! Obrigado por estar sempre comentando aqui Angie, tenho um carinho enorme por Ohana Dreams que foi meu trabalho mais recente e me ajudou a recuperar um pouco do brilho pelas fics de Pokémon.

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