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- Ohana Dreams (Capítulo 6)
Posted by : CanasOminous
9 de set. de 2016
O
vento estava muito forte naquela manhã, a madeira da casa rangia incessante e o
mar parecia mais agitado que o de costume. Hal levantou por volta das sete da
manhã e preparou um café reforçado com pães, ovos e leite; Mili ainda estava
dormindo com Kai no quarto e não dava a impressão de que sairiam de lá tão
cedo.
Não
sentia empolgação para nada naquele dia, na verdade, acordara meio de mau humor
por não conseguir dormir direito à noite por causa do calor. Hoje não tinha
interesse em brincar ou visitar a Baía do Rei, iria ficar deitado na rede à
tarde inteira e ninguém poderia tirá-lo de lá. Popplio e Rockruff estavam
olhando pela janela na sala, ambos examinavam o oceano, inquietos. Pegou algumas
revistas em quadrinhos e colocou-as debaixo do braço, mas quando estava para
sair, o cãozinho entrou em sua frente e começou a latir sem parar.
— Pare de fazer barulho, Dia, vai acordar as meninas! —
respondeu Hal, um pouco mais severo do que gostaria. Diamante encolheu-se
embaixo da mesa e ali se escondeu.
Por algum motivo, a porta parecia emperrada.
Hal olhou pela fechadura para ter certeza de que a havia
trancado de noite, o que era estranho, pois se sentia tão seguro em casa que
muitas vezes até se esquecia de trancar a porta. Pelo menos ainda poderia usar
a saída dos fundos da cozinha, que levava direto ao quintal na bancada de
areia.
Hal deu a volta e fez seu caminho em silêncio, indo até
dois coqueiros próximos a onde sua adorada rede já lhe aguardava. Ali era o seu
santuário sagrado, com direito a silêncio, sombra e água fresca; tudo que
precisava naquela vida. Ligou o radinho que ganhara de Kai e abriu um coco-de-praia
para toma-lo aos poucos, deu um pulo e aconchegou-se, soltando um longo suspiro
antes de começar sua leitura.
Virou algumas páginas e olhou de relance para sua casa, tendo
imediatamente de interromper sua leitura ao notar o que parecia ser uma enorme árvore
que não estava ali até ontem à noite, pensar que ela poderia ter crescido de um
dia para o outro era loucura.
Saiu da rede e foi andando até a imensa árvore. Fosse um
coqueiro ou uma palmeira, ela tinha pelo menos 10 metros de altura e tampava o
sol como se fosse uma peneira gigantesca. Hal precisou olhar para cima levar a
mão até o rosto para conseguir enxergá-la, compreendendo o motivo pelo qual
seus Pokémon estavam tão inquietos de manhã.
— Um Exeggutor — concluiu.
A imensa pata direita da criatura estava bem em frente à
porta de sua casa, e isso explicava porque parecia emperrada agora cedo.
Hal andou até a criatura e soltou um assovio alto e
estridente. Sem resposta. O Pokémon parecia alheio a tudo e todos, ele apenas
estava ali, observando o oceano com um semblante tranquilo e sereno, como se
tivesse encontrado o lugar mais perfeito do mundo e ali ficaria até morrer.
Hal tentou empurrá-lo com os dois braços, mas a criatura
não se movia nem um centímetro. Chamou Chefe dentro da casa, a Popplio soltou
um jato d’água potente, mas em resposta o Exeggutor apenas sorriu, como se agradecesse
o refresco. Na segunda tentativa chamou Diamante, mas o cãozinho estava tão
amedrontado de chegar perto da criatura que nem quis sair de casa. Ao perceber
que nada que fizesse adiantaria muito, decidiu entrar e chamar a única pessoa
que resolvia seus problemas quando mais ninguém podia.
Foi até o quarto de sua irmã e bateu na porta. Sem
resposta. Bateu mais uma vez, dessa vez com mais força, e o silêncio reinou.
Hal bateu pelo menos cinco vezes antes de perceber que não estava trancada, por
isso decidiu entrar. Talvez elas tivessem saído à noite e ainda não voltado,
mas ao entrar, deu de cara com Kailani se trocando de costas. A moça virou-se
para o jovem lentamente, somente então se dando conta de que não era Mili que
entrara no aposento. Ela enrolou-se no cobertor e ficou tão vermelha quanto uma
maçã, mas não gritou ou esperneou, pelo contrário, só ficou um pouco
envergonhada, o que era raro por parte de uma mulher sempre espalhafatosa como
Kai costumava ser.
— Oi, Halzinho. Dormiu bem?
— D-desculpa, eu deveria ter batido mais vezes! —
respondeu Hal, escondendo-se atrás da porta. — Desculpa mesmo, Kai, eu não
queria incomodar.
— Sem problemas. Sua irmã está no banheiro, se quiser
falar com ela.
— Só diga que temos um problema na casa e que preciso urgentemente
da ajuda de alguém...
Assim que as duas terminaram de se trocar, Miliani
cumprimentou Hal com um beijo no rosto, o que era estranho, tanta gentileza por
parte dela só podia significar que estava de bom humor ou que queria alguma
coisa. Com sorte ela não ficaria tão estressada com a notícia.
— E então, o que você fez? — perguntou Mili, quase como
se o acusasse.
— Queimou o fogão? Entupiu a privada? Quebrou o vaso de
cerâmica preferido da mãe? Aproveita pra falar tudo agora, porque tive um
trabalhão para deixar sua irmã de bom humor hoje e não há nada nesse mundo que
a fará ficar irritada, pelo menos eu acho — respondeu Kai com uma risada,
colocando um dos braços em volta de sua companheira.
Hal
só apontou para a porta.
— Tentem abrir.
Mili tentou primeiro, e ao concluir que estava
emperrada, nem quis mais tentar. A segunda foi Kai que primeiro tentou abrir
como gente normal, mas logo perdeu a paciência e começou a empurrar, socar e
chutar a porta com tanta força que a maçaneta saiu na sua mão. Mili respirou
fundo, e juntas elas concluíram que não dava mesmo para abrir.
— É que tem um Exeggutor enorme lá fora! — disse Hal,
caindo na risada.
— Ah, e você esperou a gente quebrar de vez a porta para
nos avisar? Garoto esperto — disse Kailani com ironia. — Não se preocupem, eu
pago o conserto.
Os três saíram pelos fundos e deram a volta na casa,
notando então a gigantesca criatura que estava lá, fazendo sombra para todos ao
seu redor. Os Pokémon brincavam contentes em volta dos pés do Exeggutor que
parecia não se importar muito.
— Esse é um dos maiores Exxegutors que eu já vi —
admitiu Miliani, cobrindo a luz do sol com os olhos. — O que será que ele está
fazendo aqui bem na porta de casa?
— Acho que ele encontrou seu pedacinho do paraíso e
decidiu morar aqui com vocês — brincou Kailani. — Vocês acabam de ganhar um
novo vizinho!
— É, só que eu não quero um vizinho, ainda mais um que me
incomode bem na frente da porta todas as manhãs — respondeu Hal meio irritado,
usando todas as forças que tinha em seu corpinho miúdo para tentar empurrar a
criatura novamente, sem muito sucesso.
Quando enfim cansou, sentou-se no chão e esticou as
pernas para depois admitir a derrota. Mili sorriu e foi até o lado do irmão,
procurando consolá-lo.
— Por que está tão bravo hoje?
— Sei lá. Só quero estar bravo. Preciso ter um motivo? —
perguntou Hal de forma irritada.
— Você pode ficar estressado o quanto quiser, é só me
avisar, porque estarei bem longe — disse Mili com uma risada. — Mas a raiva nunca
vai te ajudar a resolver seus problemas, e sabe como devemos combatê-la? Com
paciência. Se um controle remoto não funcionar direito, vai ajudar bater e
pressionar os botões com mais força? Na maioria dos casos, isso dó vai ajudar a
quebra-lo de vez.
— Mas ficar parado também não vai consertar nada.
— Sei que não, por isso você deve ter a paciência em
sentar, abri-lo, e estudar a possível causa do defeito. Com toda certeza isso
resolverá.
— Não se preocupem, damos um jeito para tudo nessa vida —
falou Kailani, que entrou na casa rapidamente e logo voltou com uma pokébola em
mãos. — Tenho uma amiga que pode
resolver isso com facilidade!
Era a primeira vez que Hal via a amiga de sua irmã com
um Pokémon de verdade, lembrou-se que no passado ela já foi treinadora e participou
de algumas competições na região por diversão. A criatura que saiu da pokébola
parecia um lagarto com a pele cinzenta e marcas avermelhadas até a ponta do
rabo, mas tratava-se na verdade de uma salamandra, muito comuns nas regiões
montanhescas de Alola. Tinha olhos lilases e observadores, parecia muito agitada.
Embora não parecesse muito poderosa no combate físico, estava óbvio que
trabalhava técnicas astutas para desequilibrar seus oponentes e pegá-los
desprevenidos.
Quando finalmente teve a chance de respirar um pouco de
ar puro, a Salandit subiu pela perna de sua treinadora até seu ombro, e por ali
ficou, como se buscasse ter a atenção só dela.
— Eu e Salandit nos conhecemos na mata uma vez, acho que
ela gostou de mim, e eu gostei dela. Só posso ter dado sorte, nós duas temos
interesse por fêmeas — ela brincou, acariciando o rosto da salamandra. — Este é
um Pokémon do tipo fogo e venenoso, então, creio que poderíamos simplesmente
espantar o Exeggutor na base da força. O que acha?
Hal olhou para a gigantesca árvore ao seu lado. O
Exeggutor estava tão tranquilo e sossegado que seria maldade começar uma
batalha contra ele, parecia só estar procurando um pouco de paz e
tranquilidade, não havia motivos para descontar sua raiva nele.
— Mas aí nós vamos machucá-lo...
— Alguém sempre
sai machucado quando não controlamos nossa raiva.
Hal pensou bem, respirou fundo e concluiu que seria
melhor deixa-lo em paz.
— Deixe isso pra lá.
— Ótima escolha, Halzinho! Você sabe o que eu faço
quando sua irmã está brava? Eu sumo, desapareço, fico um tempão longe até que
ela se acalme, porque eu também sou cabeça quente e sei que vou fazer merda —
explicou Kai. — Depois que estou mais tranquila, eu volto e a encho de beijos
até que não não me aguente mais por perto. É assim que controlo minha raiva.
Hal riu da história, e no fim das contas, compreendeu o
que as duas tentavam lhe contar.
— Quando ele se cansar acho que vai ir embora, até lá,
tente divertir-se de outra maneira — disse Miliani, e agora que estavam
resolvidos, pegou sua bolsa e se preparou para sair. — Tome conta de tudo,
ouviu? Não esqueça de trancar a porta.
— Ah, acho que ela vai estar bem protegida...
— Volto antes das quatro.
— Aonde vão? — indagou Hal, só por curiosidade. —
Pretendem passar na sorveteria depois?
— Vamos ao banco. E nada de sorveteria. Ainda quer ir?
— Não mesmo — ele riu.
— Bem que nós poderíamos usar a Salandit para colocar
fogo na cabeça daquela gerente insuportável — disse Kailani. — Ou quem sabe
envenenar o cafezinho dela! Se aquele filhote de Slakoth não conseguir resolver
nosso problema dessa vez, acho não vou me segurar.
— E por um acaso a senhorita não entendeu nada da lição
que acabei de passar para o meu irmão? A raiva nunca vai nos ajudar a resolver
os problemas da vida, vamos ter paciência e esperar, porque no fim das contas
tudo sempre se resolve — continuou Mili.
— Tá bem, tá bem... — Kai concordou, saindo na companhia
de sua amiga. — Se cuida, Hal. Nada de colocar fogo na casa ou na cabeça das
pessoas.
Finalmente estava sozinho de novo. Hal pegou sua revista
caída no chão e voltou para a rede, onde ficou lendo um volume interessante
sobre uma equipe de super-heróis com poderes conhecidos como X-Men. Hal gostava
muito da Tempestade, ela era morena e tinha o cabelo branco, exatamente como
sua irmã. Estava tendo uma leitura agradável quando foi surpreendido por sua
Popplio que pulou em cima dele, sabe-se lá como.
Hal levantou-se e olhou para o lado. O Exeggutor não
mexera um centímetro ou movera um tronco sequer, ele apenas fitava o horizonte,
mas sua cauda vivia se movendo como se fosse uma árvore móvel e pensasse por si
própria, e ela fora a responsável por um dar um empurrãozinho em Popplio até
seu dono. Hal levantou-se e desarrumou sua rede, levando-a para perto de sua
casa e amarrando uma ponta num pilar de madeira e a outra no corpo do
gigantesco Pokémon do tipo grama.
O sol movia-se o dia inteiro, por volta do meio dia
ficava difícil de encontrar uma sombra aconchegante, mas a cauda do Exeggutor o
acompanhava e o protegia, aos poucos Hal começava a gostar de seu novo vizinho.
Quando retomou a leitura dos X-Men, a rede começou a
balançar de um lado para outro. O Pokémon árvore usava sua cauda para atender
todas as necessidades do garoto. Hal relaxou e acomodou-se melhor com Popplio e
Rockruff no colo, onde passou a tarde toda lendo até não aguentar mais.
Ao
entardecer, começou a ventar bastante. Nuvens cinzentas vinham do oceano com
rapidez e as ondas ficaram mais ferozes. O garoto desarrumou suas coisas e as
levou para dentro com pressa, fechando todas as janelas e cortinas. Uma noite
seca seguida de um dia com fortes vendavais eram mau sinal, estava acostumado a
viradas súbitas típicas do litoral, só esperava que a senhorita Tempestade
fosse generosa com eles dessa vez.
A
chuva chegou de uma vez, e Hal começou a preocupar-se com sua irmã que ainda
não tinha voltado. Olhou pela janela e o Exeggutor continuava ali, sua cabeça
ocultada pelas nuvens, nem mesmo o vento com toda sua força era capaz de
envergar um tronco tão resistente. Pelo menos a presença do Pokémon ajudava a
proteger a casa da fúria da natureza, aumentando sua segurança.
Já
passava das sete e meia da tarde, Hal estava deitado no sofá da sala tentando
fazer seu rádio funcionar quando ouviu a porta abrir. Foi correndo recebê-la,
mas escondeu-se no corredor quando percebeu que sua irmã estava chorando. Mili e
Kai provavelmente acabaram atrasando no banco, e todo seu bom humor havia sido
drenado. As duas estavam cansadas, aflitas e ensopadas; e assim que colocaram
os pés na casa, Mili desabou em lágrimas nos ombros de sua amiga. Kai tentava
lhe dar todo apoio, mas nem mesmo ela podia resolver a situação.
— E-eu não sei mais o que fazer, Kai... Sério, eu não
sei. Pagar contas é tão difícil; preciso comprar comida, consertar a casa e
quitar as dívidas que os meus pais deixaram. Estou adiando o inevitável. Vivo fugindo e me escondendo atrás de beijos e sorvetes, mas é como se fosse uma forma de disfarçar minhas dores e tentar não assumir meus problemas. Isso é demais para mim. Eu não quero mais ser adulta... Queria voltar a ter dezoito,
quinze, dez anos, qualquer coisa, só tire essa responsabilidade das minhas
costas.
— Não diga bobagens, Mili, você é uma mulher tão forte! Essa
grana vai sair, você vai conseguir terminar de arrumar a casa e não vai
precisar sair do emprego que tem. Nós duas juntas somos inseparáveis naquele
luau, se você ameaçar sair, aposto que o chefe aumenta seu salário na hora.
— Está difícil para todo mundo, Kai... Há momentos em que
eu só queria me preocupar com coisas de menina de novo. Estudar, namorar,
entrar em uma faculdade, casar... Mas da forma como tenho vivido, parece que só
estou fugindo dos meus problemas e esperando algum milagre acontecer. Eu não
quero mais isso, Kai...
Kailani segurou o rosto de sua amiga, fazendo-a encarar
seus olhos com intensidade. Limpou os fios prateados molhados e depois suas
lágrimas para então falar:
— Pare já com isso. Você vai conseguir, entendeu? Nós
vamos. O universo não nos tira algo sem ter um segundo plano, ele nos
presenteia com amigos e familiares que se importam muito, você tem o Dylan, tem
a mim, nós somos ou não uma família?
Mili se jogou em seus braços, e as duas ficaram ali,
molhadas e abraçadas na saída da cozinha. Hal estava escondido na curva do
corredor ouvindo a conversa, e quando apareceu, preferiu agir como se não
tivesse ouvido nada.
— E aí, meninas.
— Oi, meu querido... — disse Mili com a voz suave. —
Pensei que estivesse tirando lendo ou tirando um cochilo no seu quarto.
— Eu estava. Só vim tomar um leite com nescau — ele
preferiu não tocar no assunto do banco ou perguntar como havia sido o dia dela.
Aquilo não importava mais.
— Vem logo, Mili, antes que você pegue resfriado... —
disse Kai, levando-a para seu quarto.
Mili ficou chorando por quase meia hora. Kai ligou a
banheira e a encheu até que ficasse quente, tão quente que o chão se tornaria
escorregadio e o espelhos ficariam embaçados. Queria simular uma fonte termal
das montanhas distantes de Lavaridge, em Hoenn, sabia que sua amiga as adorava.
A situação de Mili estava desesperadora, era como se ela tivesse perdido
completamente os sentidos, ficava deitada em posição fetal, chorando e
lamentando freneticamente. Kai a abraçou com carinho e a levou até o banheiro,
tirou seu vestido e a carregou para dentro da banheira, colocando-a ali dentro
até que se acalmasse.
— E então? Sente-se mais tranquila?
Mili fez que sim com a cabeça, incapaz de responder. Sua
amiga sentou-se na beirada da banheira e começou a desenhar círculos na água.
— Eu pretendia usar sais de banho como aqueles chiques
que passam nas novelas da televisão, mas já que estamos com a grana curta, usei
o que restava do seu shampoo mesmo, só pra fazer espuma.
— Não precisava de nada disso...
— E quem disse que eu fiz pra você? — Kai arrancou a
camiseta encharcada e tirou os shorts molhados, entrando na banheira. — Sei que
o seu dia não foi tão bom, mas eu estou aqui para compensar e irei diverti-la
até não aguentar mais, porque eu amo seu sorriso e não posso viver sem ele.
Mili virou-se de costas e deitou-se no peito de sua
companheira, respirando com dificuldade pelo calor, mas enchendo-se de ternura com
todo o carinho que ela recebia.
As duas ficaram ali, abraçadas, até que suas peles
ficassem enrugadas.
A chuva intensificou-se lá fora. Árvores se curvavam
perante a fúria da natureza e as ondas eram tão grandes que quase alcançavam a
pequena moradia dos Kameahookohoia. Mili não deixou que sua amiga voltasse para
sua casa naquela tempestade, e pediu que Kai dormisse ali mais uma noite. As
paredes de madeira rangiam e agora Hal corria de um lado para o outro com
baldes Pokémon para conter as goteiras e a água que entrava pelo vão das
janelas.
Fazia anos que eles não viam um temporal como aquele,
era assustador. O barulho lá fora fazia parecer que o mundo estava sendo
destruído, como se Groudon e Kyogre travassem uma batalha intensa logo no
quintal de casa. Mais cedo, ainda naquele dia, Hal ouvira no rádio que uma
tempestade se aproximava de Alola e os moradores deveriam tomar cuidado, mas
não dera muita importância na hora, pois a Tempestade dos X-Men era muito mais
interessante e jamais faria algo para ferir alguém.
Agora ele sentia medo da própria natureza, do vento e do
mar que tanto amava. Abraçava sua Popplio enquanto Rockruff se escondia embaixo
da cama, um raio pôde ser visto por entre as frestas da janela e um trovão
estourou ali perto. Hal imaginou se ele não teria acertado o pobre Exeggutor,
que não importava o quanto se esforçasse, jamais caberia dentro de sua casa.
Hal se enrolou em seu cobertor e foi correndo até o
quarto da irmã, mas estava trancado, e ele não gostaria de perturbá-las como
acontecera de manhã. Como se ouvisse
seus pensamentos, Mili abriu a porta, sem que ele sequer precisasse bater.
— Hal, o que está fazendo aqui? — disse sua irmã, aflita.
— Eu estava indo ver se estava tudo bem com você.
— Eu... posso ficar um pouco com vocês? Está muito
barulho lá fora.
— Claro, querido. Entre logo.
Mili permitiu que o garoto entrasse junto de cão, foca,
e tudo o mais que existisse naquela casa. Sua irmã vestia uma camisola azul
bebê enquanto Kai usava um shortinho curto e blusa por cima, as duas também
estavam acordadas com a pequena Salandit acomodada na cama, observando tudo com
um par de olhos lilases na escuridão. Aparentemente, não era só ele que estava
tendo uma noite ruim. Ninguém conversou muito, mas também não conseguiram
dormir. Choveu a noite inteira, o suficiente para um ano todo em Alola, o
barulho era tão ensurdecedor que parecia improvável que uma simples cabana de
madeira pudesse suportar tamanha fúria.
Todos dormiram com o peso e a insegurança de que algo
ruim pudesse acontecer.
Assim que os primeiros raios da manhã surgiram, Hal,
Mili e Kai saíram do quarto, analisando o estrago causado na casa. A chuva tinha
cessado, mas deixou para trás lembranças amargas. Uma janela de vidro estourou
e muita água entrou na sala, destruindo aparelhos, quadros e decorações. A
cozinha estava alagada, o sofá todo ensopado e telhas faltavam por toda parte.
Mili levou a mão até seus olhos e conteve o choro, já não tinha muito dinheiro,
e agora precisaria de muito mais para consertar os danos causados pelo mal
tempo. Sua família não tinha mais seguro, e era simplesmente inviável viver
naquelas condições.
— Calma, vai dar tudo certo — disse Kai enquanto a abraçava.
— Se for algum tipo de punição, eu não estou aguentando
mais — murmurou Miliani. — Eu só queria minha vida e família de volta, queria
que as coisas voltassem a ser como eram. É muita crueldade, faça parar...
— O universo não tira algo da gente sem ter planos melhores,
Mili. Eu sei que você não acredita em nada, mas tente ter fé, nem que seja uma
única vez.
Hal olhava para tudo, desolado. Muita água invadira seu
quarto, destruindo brinquedos e suas coleções espalhadas em cima da estante. Se
existia ou não uma entidade suprema como Arceus, então ele deveria estar com
muita raiva deles. O que haviam feito? Não compreendia o motivo de terem que
pagar um preço tão alto, sendo que nunca fizeram nada de errado.
Curiosamente, a porta de entrada não estava mais
emperrada. Ao sair para a rua, Hal notou que o Exeggutor não estava mais ali. Em
seu lugar, havia uma enorme pedra que se deslocara das montanhas, rolando pela
colina até parar exatamente em frente à porta. Havia muita terra e destruição contornando
sua morada e destruindo o que havia ao redor, mas por algum milagre, sua casa
não havia sido tocada. A visão bela que um dia existiu desapareceu por completo,
e exatamente ali, à sombra do enorme Exeggutor, sobrara apenas um pedaço de
tronco quebrado que dera sua vida para protegê-los.
Quando Hal levantou restos de tronco e pedras, encontrou
um curiosa fruta que devia ter caído lá do alto da majestosa árvore. Ao
virá-la, notou que era na verdade um Exeggcute solitário, tão perdido e
assustado quanto uma criança perdida no mundo. Hal abraçou o Pokémon e respirou
fundo, sendo tomado por reflexões. Talvez o universo realmente soubesse o que
estava fazendo. Se o Exeggutor previra a tempestade antecipadamente ou não,
jamais saberia dizer; mas por algum motivo a criatura quis ficar ali, com sua
tranquilidade e jeitão desengonçado, observando o oceano e o horizonte distante
uma última vez.
Hal jamais esqueceu que sua família sobreviveu por causa
dele.
Apos ler a parte final do Exeggutor -
ResponderExcluirEu não tó chorando,eu não quero chorar
ExcluirA partir de hoje o Sr. Exeggutor finalmente será reconhecido pelas pessoas como um verdadeiro herói, e ninguém mais ficará zoando seu pescoção kkkk
Agora é a parte em que pretendo inserir o drama de verdade na história, é bom colocar algumas provações para os personagens de vez em quando, primeiro você faz os leitores se apegarem a eles, e depois você pega a pipoca enquanto assiste todos sofrerem! :v kkkkkkkkk
Um pouco triste...
ResponderExcluirEu sinto que a Mili ou a Kai vão namorar e depois uma delas corneia a outra, ou então uma delas namora com um rapaz qualquer e depois corneia ele com uma delas... Chifres uns aos outros...
Eita, mas você acha mesmo que eu seria tão maldoso a ponto de fazer uma coisa dessas, Shii? :v kkkkkkkkkk
ExcluirO final dessa história é um mistério até para mim, mas até que o último capítulo chegue eu quero que essas duas aproveitem bastante, porque elas compartilham um amor sincero, é difícil eu acertar assim com dois personagens. Não sei se eu conseguiria fazer uma sacanear a outra, eu gostaria que as duas tivessem um final feliz :)
Cara, eu quase chorei com o final, sério, brotou lágrimas nos olhos, foi algo muito legal o que o Exeggutor fez, eu já gostava do pokémon, agora gosto ainda mais, vou até tentar fazer um poema de uma estrofe para ele.
ResponderExcluir"Exeggutor, dragoeiro ou grande palmeira
Deu o teu corpo, tua madeira
Para salvar a família querida,
Ele foi, e perdeu a própria vida."
Sir Naponielli, 10/09/2016, Aventuras em Alola, Ohana Dreams Capítulo 6, Comentários
Exeggutor, nunca te esqueceremos!!! *snif* Canas, foi uma cena emocionante, e realmente, ficou um cáp bem bacana, e cara, nem imaginaria o Hal lendo X-Men! Coisa bem doida! E contas cabra... É, nem nas fanfics tá fácil... Mas bem, não vou comentar tudo porque senão eu vou (talvez) encher essa bagaça, então, té mais!
Obrigado, Sir! Desde a época de Sinnoh eu costumava pensar que se eu fizesse um leitor chorar com a Liga, nem que fosse um só, eu já teria alcançado meu objetivo. Resultado é que antes da luta começar já tinha gente chorando, então acho que completei minha missão com grande êxito kkk Ainda fico bem contente em ver o povo emocionado com minhas histórias, quando comecei a escrever fics no Nyah eu fazia dramas, então digamos que eu tenha um carinho especial pelo gênero.
ExcluirE esta é uma bela poesia para nosso companheiro esquisitão kkk Sua morte não será em vão!
Ah, e sobre o pequeno trecho dos X-men eu tive que pesquisar um pouco antes de inseri-lo. Pelo que andei lendo, a equipe surgiu em 1963, e Ohana Dreams se passa há 40 anos da linha cronológica atual, então pelo menos aqui não teria nenhum furo. Se pensarmos que estamos no ano de 2016, e o capítulo estaria acontecendo em 1976, adivinha em qual ano a Tempestade foi criada? 1975! A data bateu com perfeição, por isso digamos que o Hal foi pego de surpresa quando descobriu uma nova heroína nos seus quadrinhos favoritos. Mas são apenas alguns easter eggs pequenos mesmo, não que vá fazer muita diferença kkkkk
Fico feliz que tenha curtido o capítulo, cara! Eu pensei na história no mesmo dia que anunciaram o Alolan Exeggutor e começaram a brotar zoeiras por causa do seu tamanho, só faltava dar uma lapidada no capítulo.
Oh... que final triste, Canas!
ResponderExcluirEu não estava nada à espera, confesso. Este capítulo fez-me lembrar aquelas notícias de catástrofes naturais que passam nos noticiários e nós nunca pensamos que nos aconteçam a nós. Mais uma vez, uma bela representação da realidade! Ah, e viva o salvador Exeggutor!
E como sempre, a linda Mili é a sofredora do capítulo! Eu cada vez mais amo essa personagem e agradeço do fundo do coração por Kai existir e estar SEMPRE ao seu lado quando ela precisa! Isto é o que se chama de AMOR.
Bom trabalho!
Eu gosto bastante desse capítulo do Exeggutor porque ele é um dos meus Pokémon favoritos! Inclusive, tentei colocar algumas referências relacionadas a outro Exeggutor do Aventuras em Sinnoh, quem leu os capítulos da Grande Criação deve ter notado kkkk
ExcluirÉ meio louco pensar que em um dia você pode estar tranquilo na rua de sua casa, e de repente na madrugada acontece um temporal, um desabamento, sei lá, tantas coisas ruins podem vir de repente D: Mili, como sempre, servirá como gancho para inúmeros acontecimentos que estão por vir. Eu gosto de judiar de personagens que amo muito, mas nunca me esqueço de recompensá-los da devida forma antes do fim.